segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Sobre o DIREITO dos pais de educar

Muito se tem ouvido sobre a tal da "Lei da Palmada". E, dia desses, li uma reportagem da Câmara dos Deputados, com os manifestantes apoiando a ideia. A reportagem fez menção direta a dois deles. Um rapaz, cuja mãe se separou do pai dele e descarregou nele toda a sua indignação. Sobraram cortes, queimaduras, cicatrizes por todo o corpo. A moça estava arrasada. Um professor em sala de aula disse que "se os alunos quisessem prestar atenção, que prestassem. Caso contrário, o problema era deles mesmos! Ele (o professor) receberia no final do mês de qualquer forma. Os alunos prestando atenção ou não. Então, este é o tipo de gente que defende a lei, ajudados e amparados pela Rainha Xuxa, que insiste até hoje em ser Rainha dos baixinhos! e que, curiosamente, não se indigna em fazer publicidade para crianças, como por exemplo um comercial do "leptop da Xuxa", a quem se atribui a fonte da felicidade!

Continuando minha procura de informação sobre educação e criação de filhos, deparei com o texto abaixo. Não deu pra guardar só pra mim, então, estou dividindo.

Junto com o texto, divido minha angústia: embora tenha ficado feliz por ver um texto que expressa tão bem o que eu tenho pensado, me arrasa saber que foi escrito em 2004 (!) e que nós só pioramos...

Bom, é isso. Espero que gostem!

"Gente, cansei!

Cansei de ouvir falar dos direitos das crianças e jovens (eles têm direitos, é claro. Mas, mesmo assim, cansei, porque não se fala com a mesma ênfase e frequência dos deveres das crianças e adolescentes).

Também cansei de ouvir pessoas - muitas das quais sem filhos (isto quer dizer, nunca "caminharam com as nossas sandálias") - acusando, culpando, levantando suspeitas sobre a ação dos pais! Como se, diária e voluntariamente, estivessem os pais, não se desdobrando, como vejo, para fazer o melhor possível (ainda que ninguém seja perfeito, e erre às vezes na medida), mas, por algun desígnio inexplicável, cometendo erros atrás de erros, felizes da vida...

E por que cansei? Porque o que vejo, em mais de três décadas de trabalho em Educação, são pais se esforçando, lutando, dando o melhor de si na maioria dos casos. Há, sim, exceções. Casos tristes. Mas SEGURAMENTE não são a maioria. A maioria está aí brigando contra tudo e contra todos para dar o melhor aos filhos.

Também cansei, porque sempre defendi a ideia de que a cada direito corresponde um dever. E o que ouço e vejo é tão-somente colocações de deveres dos pais e... direitos dos filhos.

E também porque os que vivem acusando os pais, como se todos fossem potencialmente irresponsáveis ou perigosos, nunca os vi procurando nada além do que os pais "fizeram de errado" ou do que "os pais deixaram de fazer" para, em vez disso, e com mais cautela e gerenorisade, verificar se não haveria talvez outras explicações para os problemas que surgem amiúde na relação familiar atualmente.

Passou-me pela mente então uma questão bem plausível. Será que a razão de grande parte dos problemas não seria exatamente a inversa? Quem sabe os problemas da relação pais e filhos não teriam origem - pelo menos em parte - exatamente no fato de estarem hoje os jovens e as crianças excessivamente inflados pelo que consideram "seus direitos?" Não estariam esquecendo (deixando de lado, ou não sendo suficientemente esclarecidos) de que têm também, e na mesma porporção, deveres e responsabilidades?

E os pais não estariam, por seu turno, atemorizados pela culpabilização interminável que a eles se faz, encolhidos por isso mesmo no seu canto, arqueados ao peso de tanta responsabilização; não estariam eles imobilizados, fragilizados, enfim?

Por isso, e para resgatar os DIREITOS dos pais, escrevi este livro. Porque, enquanto pais e mães não voltarem a confiar em si, enquanto estiverem temerosos da opinião dos outros (e por vezes até reféns desses pareceres, seja de especialistas, vizinhos, amigos ou parentes), não conseguirão exercer seu papel com a autenticidade, a coragem e a tenacidade necessárias ao exercício da função. Ouvir opiniões de pessoas que nos querem bem, analisá-las, aprender novas teorias e visões com especialistas de renome é positivo. O que não deveria ocorrer - mas está sucedendo - é que, de tanto ouvir recriminações, de tanto escutar opiniões diversas e por vezes até contraditórais, os pais fiquem sem saber se têm ao menos o direito de repreender os filhos quando agem de forma inadequada, perigosa ou incivilizada. Porque ser pai e mãe hoje requer coragem, auto-estima elevada e um amor e paciência infinitos... Não o amor infinito do querido Vinícius (que, todos sabem, só é infinito enquanto dura), mas o de pai e mãe, que é infinito mesmo! É um amor, aliás, que começa infinito antes mesmo de o objeto de seu sentimento existir - porque, cá para nós que somos pais, é um tremendo ato de coragem e de amor ter filhos na sociedade assustadora em que vivemos hoje.

Então, vamos resgatar a coragem desses verdadeiros heróis.

Pais, vocês têm direitos também, não só deveres! Podem acreditar!!!!"

Zagury, Tania. Os direitos dos pais: construindo cidadãos em tempos de crise. 11.ed. Rio de Janeiro: Record. 2004,11-13