quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sobre limites e disciplina

Dia desses estava lendo na Bíblia a história do rei Davi. Conta a história, dentre muitas outras coisas, a relação de Davi com seu filho Absalão.

Parênteses: Davi é conhecido como o homem segundo o coração de Deus. Fecha parênteses.

Pois bem. Este filho, Absalão, tinha uma irmã, Tamar. Naqueles tempos era permitido o casamento de meio-irmãos. E um dos filhos de Davi com outra de suas mulheres se apaixonou por Tamar. Mas, em lugar de pedir ao pai a mão da moça, como rezava a tradição, armou uma pra ela e violentou a irmã.

Bom, sabendo disso, o pai, Davi, nada fez. Porém Absalão foi, cuidou da irmã e levou a mesma pra sua casa.

E o pai nada.

Passado um tempo, já que o pai nada fez, Absalão disse que queria fazer uma festinha com os irmãos e mandou ao pai o convite, pedindo que deixasse todos os filhos comparecerem a festa.

E o pai, deixou. Resultado? Absalão matou o meio-irmão que violentara sua irmã.

E o pai? Nada.

Absalão fugiu.


Muito tempo depois, o pai cansado de chorar a falta do filho, pediu a um comandante seu que mandasse o filho voltar.

E o filho voltou. Mas o pai nunca o chamou pra conversar, disciplinar ou qualquer coisa parecida com discutir a relação, como se diz hoje. Passaram-se anos desde que o filho retornara e o pai permaneceu em seu silêncio omisso.

Resultado? o filho começou um levante contra o reinado do pai e este teve que fugir de seu próprio reino e de seu próprio filho. Como se não fosse suficiente, o filho ainda foi à casa real, levou para o terraço as concumbinas que ficaram pra trás na fuga do rei e transou com todas elas pra quem quisesse ver.

Como terminou a história? Com o filho morto, claro, e o pai chorando e sofrendo profundamente pela perda.

Se eu não tivesse informado no princípio que se tratava de uma história bíblica, dava pra crer completamente que era uma reportagem atual ou enredo de novela de horário nobre, não dava? Fiquei pensando como coisas que tem tudo pra dar certo terminam assim.

Percebo, como disse um pregador, como fez falta a disciplina para Absalão. Na verdade, como custou cara a omissão de Davi. Esta omissão custou-lhe três filhos, além do seu sofrimento pessoal.

Contudo, o mais incrível (ou o mais terrível) é que, apesar de ser uma história tão antiga, tão ao alcance de quem quiser, é tão atual! É praticamente bárbaro como isso se repete hoje e com que intensidade.


Não são poucos os filhos da omissão. Com as mães cada vez mais no mercado de trabalho, a omissão e a culpa andam de mãos dadas, formando filhos que caminham a passos largos para destruição de suas vidas e de outras pessoas que estiverem no caminho.

Mas porque? Às vezes, penso que encarar os problemas de frente não é muito fácil, mas deixá-los passar como se não tivessem importância (ou como se eles se resolvessem sozinhos, se não tocar no assunto) é pior ainda.

Foi o que Davi fez. Viu sua família se mutilar diante de seus olhos, mas não quis interferir. Preferiu respeitar a liberdade individual de suas crias.


Atualmente, esta tal liberdade individual (também conhecida como privacidade) tem sido vista e crida praticamente como "a" maravilha do mundo. Então, em nome de não desrespeitar tal privacidade, os pais não se manifestam, não interferem quando os filhos desde pequenos começam a reinar soberanos em seus lares. Mandam em tudo e em todos, sem qualquer limite e sem qualquer disciplina por ultrapassar os limites.

Afinal, se não há limite não há porque disciplinar, não é mesmo? E viva os pequenos soberanos!

Ao mesmo tempo em que falhamos ao estabelecer limites para nossas pequenas criaturas, percebo que muitas vezes não fazemos isso com eles porque não fazemos conosco! Ora, não se pode dar o que não tem!!!

Você pode estar se perguntando como assim? e eu respondo: quantas vezes somos forçados a aprender dizer não? para pais, maridos (ou ex), companheiros, colegas de trabalho... e por aí vai. A lista é infinita!

Permitimos não poucas vezes que os outros nos esfolem, pois não sabemos falar não. O medo da não aceitação muitas vezes nos incita a aceitar pessoas e comportamentos, que, em outras circunstâncias não admitiríamos. Mas viva a coletividade!

É certo que temos respeitar os outros. Mas isto não implica em dizer sim sempre. Isto não quer dizer que também é não sempre, mas isso é conversa pra outra hora...

Que possamos aprender a dizer não tanto aos nossos filhos quanto a nós mesmos, para que no fim, ao olhar pra trás, possamos sentir o alívio da missão cumprida e não o pesar de pensar como teria sido se tivessemos feito diferente.

Abraços e beijos gerais... = )