terça-feira, 4 de maio de 2010

Religião versus Igreja


Dia desses, um amigo me mandou um recado perguntando se eu tinha visto o que tinha acontecido a um outro conhecido, que abalou a cidade. Ele não disse o que era... achei que era morte... mas não era. Este conhecido, servidor da justiça, membro de igreja (até onde eu saiba), pai de duas crianças lindas, amigo de muitos amigos meus, foi preso por pedofilia. Na semana anterior, um professor, que treinou a equipe de futebol de salão da faculdade onde minha irmã jogava, com quem eu também joguei, também foi preso e pelo mesmo motivo.

O parágrafo anterior poderia ser uma pegadinha de péssimo gosto. Mas não é. Tampouco é fofoca ou crítica. Tô contando dois fatos que me estarreceram e me entristeceram profundamente. Vou explicar porque... calma, eu chego lá e espero que você continue comigo!

Gosto muito do Rubem Alves. Sempre admirei o jeito dele escrever, o compromisso com ele mesmo e não com a opinião dos outros, principalmente de crentes e evangélicos, já que ele é um apóstata assumido.

Entretanto, estes dias li um livro dele que, de certa forma, acho que é o mais pessoal. Pra mim pelo menos foi. E o que me chamou a atenção é a mágoa que eu senti transpirar nas palavras dele, em cada capítulo. Me impressionou como o tom aparentemente irônico, satírico, soou pra mim quase como um choro. E um choro triste, sem esperança.

Neste livro que me refiro, O sapo que queria ser príncipe, ele conta a história dele, aqui pertinho de mim, no Sul das Gerais, quando saiu daqui pro Rio e depois voltou, pra ser pastor. E vai revelando como desde a faculdade não se encaixou na teoria e na instituição igreja.

Isso me levou a outro livro: Por que você não quer mais ir a igreja?, de Wayne Jacobsen e Dave Coleman. Este livro é fantástico! Me marcou muito, assim como A cabana. Trata-se de uma história de ficção cristã, sobre as relações de fé e igreja, Deus e religião.

Acredito que o que me levou a me identificar tão profundamente com isto tudo foi a minha própria história recente, da qual passo a contar um capítulo relacionado ao tema.

Casei. Separei. Agora não entro em detalhes sobre quase nada. O importante são os seguintes fatos: precisei de ajuda no casamento e busquei na igreja, que não deixei de frequentar em tempo nenhum, principalmente no "olho do furacão".

Quando a tempestade começou a fazer minha "canoa virar", eu, que sempre fui de igreja, terceira geração de metodistas (!), professora de escola dominical, participante ativa de vários ministérios na igreja e "tal e tal", como sempre (ou pelo menos sempre que pude) me coloquei à disposição dos outros nas tempestades alheias, corri "para o seio da amada igreja".

Busquei abrigo na minha igreja do coração, que é a Metodista em São Mateus, bem como naquelas outras onde eu estava.

Num dia de muitos "raios e trovões", minha mãe mesmo ligou pra casa do pastor da igreja que eu tenho ido aqui e pediu socorro pra mim. Eu já tinha mandado um e-mail pra ele contando minha novela. Assim, tive UMA visita da esposa dele e de uma outra moça (que eu nem lembro o nome!) que vieram orar comigo. O pastor também passou por aqui, mais tarde, pra buscar a esposa. Gostaram muito do meu apartamento! Que vista! que lugar jóia! Tenho certeza que, mesmo depois de dois anos, ele sequer sabe o meu nome ou o da minha filha, ainda que a gente continue frequentando a igreja regularmente.

Mas não foi só este fato. O pastor da igreja que eu também ia e até trabalhava na cidade que morei antes daqui, chegou a ir me ver algumas vezes. Sempre com a esposa junto. Claro, cidade pequena, horário estranho, melhor ir com a esposa pra não dar margem à língua ferina. Mas tem coisa que a gente não sabe como fala nem pro pastor, quanto mais pra mulher dele!!!! Depois que mudei de lá, mesmo ele sabendo como estavam as coisas, nunca me deu um telefonema pra saber se eu precisava de alguma coisa.

Apesar da "rebordosa", continuei frequentando a escola dominical e, num dia, contei tudo pra todos os "alunos da classe" e pedi ajuda. Como diz o pensador, "não há nada de novo debaixo do céu", não é mesmo? então, porque seria diferente?

Você que me lê, consegue sentir o "gosto" das minha palavras? ainda que eu tenha escolhido a dedo e tentado não destilar todo o meu fel, dá pra ver uma "pontinha de amargor", não é? Foi essa a minha sensação ao ler o livro do Rubem Alves...

Realmente tive meu período de indignação profunda! Hoje é uma indignação mais rasa = ) Mas tenho insistido em buscar a Deus (e não à igreja) pra que tudo que eu necessito (e que meu Pai sabe) possa me ser acrescentado. (Embora eu perceba que a igreja continua acreditanto que é ela que vai acrescentar, e não o Pai.)

Aqui se encaixa o livro do Jacobsen e do Coleman. A gente procura Deus, mas quer colocar Ele na caixinha, no nosso formato e no nosso tamanho. E as instituições, de forma geral, fazem isso muito bem. Prova disso é o livro do Rubem Alves.

Mas surge um outro livro: Maravilhosa Graça, do Philip Yancey. Gente, é aí que tudo se encaixa. A gente lê o do Rubem Alves e se identifica com as críticas institucionais. Lê o Jacobsen, e vê como a gente gostaria de ter uma relação saudável com Deus e como a gente mesmo estraga tudo, tentando formatar. Aí, lê o Philip e tudo se dissolve e se explica, ao conversar sobre a Graça!

O Rubem meio que sugere ou no mínimo, questiona, se Deus existe ou não. Pois se Deus é amor, porque o primeiro parágrafo do meu texto???

E é aí que a própria Bíblia se revela e foi assim que se revelou pra mim: as igrejas, e até mesmo nós, temos mais facilidade em ser o irmão do filho pródigo do que o próprio filho pródigo. E pra quem é o irmão, existem as regras, o trabalho duro, a severidade e a falta de flexibilidade, o legalismo, o radicalism,o fanatismo. E é isso que a gente muitas vezes tem feito: pedido a Deus o juízo praquele "um" que desperdiçou os bens, envergonhou o nome da família, sujou o nome da igreja!!! A gente quase se houve gritando pra Deus: "crucifica-o"!!!!

Mas aí vem Deus, que diz a respeito de si mesmo: Eu sou amor. E o que o amor faz? um banquete porque o filho voltou! Resgata, restaura, dá abertura pra "papear" de novo!

Acho que é isso que nos falta viver: a graça e o amor de Deus, pois do juízo, todo mundo já tá sabendo e machudado o bastante.

Isso me leva a outra questão: (eu tô acabando, prometo!!!) o Rubem Alves diz (no meu entendimento rude) que se cremos, somos marionetes sem escolhas, pois aqueles que serão maus, serão maus, e os que serão bons, serão bons!

O que eu vejo é exatamente o contrário: como toda ação tem uma reação, ao escolhermos um mundo sem Deus, onde negamos sua existência, questionamos o que não entendemos, rejeitamos as instituições e nos negamos a procurar a Deus, colhemos as notícias do início do texto.

Pra mim, todo o conjunto de considerações que fiz aqui com você fizeram todo o sentido, como também me fizeram ver o quanto precisamos aprender com mais com a Bíblia (e menos com a igreja) e nos voltar pra Deus, reconhecer nossas fraquezas, confessar nossos pecados e aceitar o convite dEle para "papear pelo caminho", com Deus!

Anseio que o Rubem Alves possa abrir seu coração ao amor, de forma racional e emocional também. E conhecer a Deus de andar com Ele e não só de ouvir histórias... que ele mesmo possa "papear" com Deus!

Obrigada por me ouvir = )